O fortalecimento do planejamento na gestão em saúde, especialmente na rede pública, é essencial para ampliar a prevenção do câncer de mama e garantir o acesso ao diagnóstico e ao tratamento precoce. Com o objetivo de contribuir com esse processo, o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) lançou o Atlas da Radiologia no Brasil, publicação que apresenta um panorama da assistência em diagnóstico por imagem com base em informações dos setores público e privado, oferecendo subsídios à implementação de políticas e programas voltados à redução das desigualdades no país.
O Atlas, disponível para download no site do CBR, reúne dados sobre médicos radiologistas, cobertura assistencial e distribuição de equipamentos como tomógrafos, ressonâncias magnéticas e aparelhos de raios-X. Publicado em outubro – mês dedicado à conscientização sobre o câncer de mama – o documento contribui para o debate sobre o tema e reforça a importância do planejamento e da integração entre os diferentes níveis da rede de atenção à saúde.
Acesse aqui a versão na íntegra do Atlas da Radiologia no Brasil 2025.
Os indicadores mostram que, embora o Brasil disponha de um número adequado de mamógrafos, a distribuição é desigual e as dificuldades de acesso aos serviços ainda são desafios importantes.
Essa situação reflete diferenças regionais e setoriais, com maior concentração de equipamentos no Sudeste e menor presença no Norte.
“O rastreamento do câncer de mama, porém, vai além da disponibilidade de equipamentos: exige uma linha de cuidados bem estruturada, com logística eficiente, capacitação da atenção primária, profissionais treinados e engajamento da população. Cabe à gestão buscar integração e qualidade em todas as fases do cuidado”, afirma o presidente do CBR, Rubens Chojniak.
Mamografias e rastreamento – Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), mais de 73 mil mulheres recebem o diagnóstico de câncer de mama todos os anos no Brasil. Em setembro, o Ministério da Saúde atualizou as diretrizes de rastreamento, recomendando que mulheres entre 40 e 49 anos, mesmo sem sinais ou sintomas, também realizem mamografias, faixa etária que concentra cerca de 22% das mortes pela doença. A detecção precoce aumenta significativamente as chances de cura, mas transformar essa meta em realidade ainda é um desafio em muitas regiões do país.
O levantamento do CBR cruzou dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) — que reúne informações da rede pública — com os da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), responsável pela regulação dos planos de saúde. Em 2024, o Brasil contava com 6.826 mamógrafos registrados, sendo 96% em funcionamento. Apesar disso, a taxa de cobertura mamográfica nacional é baixa. Ela fica em cerca de 58%, considerando o Sistema Único de Saúde (SUS) e a saúde suplementar.
Esses dados indicam que o principal desafio não está na quantidade de aparelhos, mas no acesso efetivo e no comparecimento das pacientes aos serviços de rastreamento. Nas regiões com maior concentração de mamógrafos, como Sudeste e Sul, as taxas de mortalidade continuam entre as mais altas do país, em torno de 27%, especialmente entre mulheres brancas. O dado tem se mantido estável desde 2010, enquanto o Norte apresentou aumento expressivo de mortalidade, passando de 13% para 23% entre 2010 e 2024.
Desigualdade regional e setorial – Em termos proporcionais, a densidade nacional é de 3,21 aparelhos por 100 mil habitantes. Roraima apresenta a menor proporção (1,53 por 100 mil), seguido de Ceará (2,23) e Pará (2,25). Já a Paraíba lidera com 4,32, seguida pelo Distrito Federal (4,26) e Rio de Janeiro (3,93).
Do total de mamógrafos, cerca da metade (3.412) está disponível em serviços do SUS, que atende aproximadamente 75% da população brasileira. Isso representa 2,13 aparelhos por 100 mil habitantes dependentes do sistema público, proporção considerada suficiente em números absolutos, mas ainda ineficiente do ponto de vista do acesso e da utilização real.
Em contrapartida, beneficiárias de planos de saúde têm, em média, três vezes mais mamógrafos à disposição do que as pacientes do SUS. O setor suplementar, que cobre 25% da população, oferece 6,54 aparelhos por 100 mil habitantes, contra 2,13 na rede pública. No Acre, a diferença é acentuada: são 35,38 mamógrafos por 100 mil habitantes na rede privada, frente a 0,84 no SUS.
O CBR reconhece o papel estratégico da saúde suplementar na ampliação da oferta de exames e na incorporação de tecnologias, mas reforça que o SUS é o principal garantidor do direito à saúde no Brasil. A integração entre os setores deve ser planejada, de modo a reduzir desigualdades e fortalecer as redes regionais de atenção
Compromisso com o acesso e a equidade – O Atlas da Radiologia no Brasil reúne dados sobre a estrutura, os recursos humanos e os desafios do diagnóstico por imagem no país. A publicação apresenta, entre outros aspectos, a distribuição dos mamógrafos em uso (no SUS e na rede privada) e sua densidade por 100 mil usuárias, entre outros pontos. Para mais detalhes, ver tabela abaixo.
“Garantir que o rastreamento do câncer de mama seja acessível a todas as mulheres, independentemente da renda ou do local de residência, é um passo essencial para que a prevenção e o diagnóstico precoce se consolidem como um verdadeiro compromisso coletivo de saúde pública”, conclui o presidente do CBR.