20 de julho de 2022 - Leandro Conceicao

30 anos de programas de qualidade CBR: Ressonância Magnética e Tomografia

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Programa verifica conhecimento médico e metodologia na utilização dos equipamentos

Por Marcelo Balbino

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Shutterstock

Seguindo os mesmos moldes e experiências anteriores dos Programas de Qualidade do CBR, iniciado em 1992 com a Mamografia, surgiu também uma equipe voltada para a questão na subespecialidade da Ressonância Magnética (RM). 

Trilhando um caminho muito próximo dos trabalhos das comissões de Mamografia e Tomografia, a primeira reunião do grupo voltado para a Ressonância Magnética aconteceu no dia 31 de outubro de 2001, na sede da entidade, em São Paulo (SP). Na ocasião foi desenhado o Regimento Interno da subespecialidade e posteriormente, em sucessivas reuniões os critérios de avaliação das clínicas ficaram pré-definidos, assim como a aprovação do layout do selo de qualidade.  

Finalmente, em novembro de 2002, o CBR anunciou a Comissão Nacional de Qualificação em Ressonância Magnética, acompanhando os mesmos moldes das comissões de qualidade que já atuavam no CBR. Assim foram anunciados os Critérios de Avaliação das Clínicas de Ressonância Magnética e também a Ficha de Inscrição por Unidade de Serviço. Nessa época o time era formado por Dr. Abdalla Skaf (SP), coordenador; Dr. Arnolfo Carvalho Neto (PR); Dra. Cláudia da Costa Leite (SP); Dr. Douglas Jorge Racy (SP); Dr. Lázaro Luís Faria do Amaral (SP); Dr. Renato Adam Mendonça (SP); Dr. Silvio Litvin (PE); Sra. Maria Garcia Otaduy (SP), física.

O objetivo do Programa de Qualidade em Ressonância Magnética acompanha a mesma preocupação do CBR como um todo. Ou seja, visa garantir que a clínica ou hospital foram submetidos a uma avaliação que atesta a sua qualidade técnica nas imagens e laudos de exames. Dessa forma, tais instituições estão aptas a possuírem um selo, que demonstra adequação a rigorosos padrões e boas práticas médicas.

Na parte prática, o programa beneficia médicos, pacientes e operadoras de saúde. Também permite avançar no que diz respeito à qualidade dos exames, a partir de benefícios como a detecção precoce de patologias e consequentemente colaborando para a redução da mortalidade.

Atualmente o CBR unificou as Comissões de Qualidade em Tomografia Computadorizada (TC) e Ressonância Magnética (RM).

Para entender melhor esta e outras questões específicas de RM conversamos com o Dr. Marco Antonio Rocha Mello, Coordenador da Comissão de Tomografia e Ressonância Magnética que explicou sobre as diferenças e similaridades das duas subespecialidades e o trabalho que sendo realizado. 

Por que o CBR unificou os programas de Certificação de Qualidade em Tomografia Computadorizada (TC) e Ressonância Magnética (RM)?

Marco Antonio Rocha Mello: Por uma questão operacional. A submissão continua separada, as clínicas aplicam para um selo ou os dois, mas as avaliações são separadas, porém realizadas pela mesma equipe. Havia um coordenador para cada comissão. Com a unificação ficou somente um, esta foi a única mudança.

Quais são as similaridades e as diferenças entre os programas de Tomografia e de Ressonância Magnética?

São idênticos na metodologia de análise, processos, membros das comissões e estrutura administrativa CBR.

Os médicos envolvidos nas comissões dos programas são os mesmos? Ou alguma das duas disciplinas exigem um conhecimento e dedicação exclusiva?

Para os radiologistas, cada vez mais, em similaridade às demais especialidades medicas, existe a tendência a se dividir em subespecialidades (radiologia abdominal/torácica/musculoesquelética/neurorradiologia) e assim a revisão dos exames de TC e RM eram feitas separadas por radiologistas subespecialistas. Cada especialidade citada envolve tanto exames de TC como RM e assim o subespecialista precisa, além dos conhecimentos médicos da sua especialidade, saber também os conhecimentos não médicos relacionados aos métodos de TC e RM (contraste de cada modalidade, física médica de cada método, segurança, etc.)

Na sua visão, quais são os grandes desafios para a ressonância magnética no país hoje? Equipamentos? Profissionalização? Conscientização? Remuneração?

Os grandes desafios são os altos custos inerentes a aquisição e manutenção destes equipamentos, atrelados ao dólar e com pressão das fontes pagadoras para redução da remuneração dos exames, no sentido do equilíbrio financeiro para os proprietários dos equipamentos.

A tecnologia é um ponto positivo ou negativo em relação aos equipamentos de ressonância magnética?

A tecnologia está sempre avançando, seja na TC, RM e demais, tanto em termos de ganho de qualidade como produtividade. A ressonância apresenta um ponto positivo em relação ao item acima, porém as empresas adicionam custos na maioria das vezes.

Há algumas iniciativas das empresas na produção de novos equipamentos, mais adaptados para a realidade de menor custo de aquisição e manutenção, frente as demandas do mercado impostas pela redução das margens. No entanto, ao mesmo tempo, fazem muito marketing para upselling das novas tecnologias, acrescentando custos. 

Ao longo dos últimos anos ocorreram grandes mudanças nos equipamentos de ressonância magnética? E na forma de atuação do radiologista?

Não houve grandes mudanças. Algumas novas tecnologias de Inteligência Artificial (IA) buscam reduzir o tempo de aquisição e realização dos exames. Assim levam ao aumento de produtividade da máquina, porém com custos. Muitas vezes é melhor pagar para ter maior produtividade do que adquirir um segundo equipamento, caso a demanda reprimida não seja maior do que 20 a 30% (este seria o ganho com as ferramentas de IA). 

Quais foram as principais conquistas do programa de qualidade em ressonância magnética?

O programa é uma certificação mais simplificada para as clínicas de tomografia e ressonância magnética, então pode ser um início de certificações adicionais, tais como o Padi, o qual surgiu, em parte, pela necessidade dos próprios clientes em terem uma certificação mais ampla para as suas clínicas, ao invés da certificação por modalidade (TC/RM, US, MMG, etc.). O CBR usou tais certificações por modalidade como curva de aprendizado para criar uma certificação mais ampla, como o Padi, e entendo ser esta uma contribuição importante para o CBR.

Quais são as vantagens do programa de qualidade em ressonância magnética para clínicas, médicos e pacientes?

Para a clínica é uma oportunidade de certificar se as suas práticas estão satisfatórias, tanto do ponto de vista dos equipamentos como dos profissionais médicos. Obter a certificação é um fator que pode ajudar no marketing, voltado tanto aos pacientes como para as fontes pagadoras. Também é possível garantir ao paciente a realização do exame em um serviço que se orienta pelas boas práticas.

Na sua visão quais são os pontos de atenção e desafios para o futuro no trabalho do radiologista nas técnicas de ressonância magnética?

Os radiologistas precisam se adaptar às mudanças impostas pelo mercado de trabalho, como por exemplo a telerradiologia, a menor remuneração, que induz a maior carga de trabalho para manter remuneração, e que estes desafios não impactem na redução da qualidade do serviço prestado, o que realmente é o desafio da atualidade.

Frente as questões acima o radiologista precisa se dedicar, se envolver na formulação da montagem dos protocolos, monitoramento em real time nos exames em realização, estar a par das atualizações tecnológicas de ferramentas de IA para redução do tempo de imagem e ajudar aos gestores a avaliar o custo versus o benefício da aquisição de tais tecnologias, no sentido de trazer ganhos de produtividade e assim redução dos altos custos da RM. 

* Matéria publicada na edição 400 do Boletim CBR, em junho de 2022