“Como a falta de contrastes radiológicos pode impactar a biossegurança dos pacientes?”: este foi o tema de webinar promovido pelo Programa de Acreditação em Diagnóstico por Imagem (Padi), do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), em 16 de agosto. O seminário online pode ser conferido na íntegra no canal oficial do CBR no YouTube.
“A falta de contrastes gera algumas dificuldades nos serviços de imagem e aparecem dúvidas que a gente tenta responder, que esperamos que possam ajudar na rotina de todos os serviços”, declarou Dr. Guilherme Hohgraefe Neto, um dos palestrantes, especialista em Radiologia e Diagnóstico por Imagem, membro titular do CBR e da Comissão de Acreditação em Diagnóstico por Imagem (Cadi) do Colégio.
O atual momento de escassez de contraste afeta diversos países e é reflexo principalmente da suspensão temporária, iniciada o mês de abril, na produção em uma das principais fábricas do mundo, na China, devido a lockdown diante da pandemia de covid-19. A produção foi retomada parcialmente em maio e integralmente em junho, mas a distribuição ainda não foi normalizada.
Diante da falta do insumo, o Ministério da Saúde emitiu uma nota com recomendações para a racionalização na Ressonância Magnética, Tomografia Computadorizada e Medicina Nuclear. Entre elas, priorizar procedimentos em pacientes de maior risco e em condições clínicas de urgência e emergência e considerar a utilização de métodos diagnósticos alternativos, quando possível.
O webinar também teve palestras de Marcela Padilha Facetto Azevedo, enfermeira com doutorado pela EERP-USP, coordenadora de Desenvolvimento de Produtos e Suporte Clínico da Alko do Brasil e docente, em 2021 e 2022, do curso on-line Radiologia e Biossegurança na área da saúde: desafios na prática clínica pela FMRP-USP; e Dra. Bruna Garbugio Dutra, Neurorradiologista do Grupo de Neuroimagem da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e do Grupo Fleury.
Reaproveitamento
Um dos temas abordados no Webinar Padi foi o possível reaproveitamento de contraste. “Uma das perguntas que sempre aparece é: ‘eu tenho dois ou três tomógrafos no meu serviço e, ao final do dia, encontro lá que um tem 20 ml de contraste em uma seringa da bomba injetora, o outro tem mais 30 ml de contraste... Será que eu posso misturar esses produtos para uma terceira dose de contraste que contemple um paciente de 70 ou 80 quilos?”, exemplificou Hohgraefe Neto.
Marcela Padilha Facetto Azevedo explicou: “Se é a mesma marca, o mesmo produto, a mesma molécula, podemos misturar? Sim. Porém, se eles são de lotes diferentes, temos que anotar na ficha do paciente que eu administrei os mesmos contrastes, as mesmas concentrações, mas de lotes diferentes, porque se houver uma reação adversa no paciente, é preciso fazer a rastreabilidade deste contraste”.
Ela ressaltou ainda que não devem ser misturados para reaproveitamento dois contrastes de concentrações diferentes, mesmo que da mesma marca. A negativa também se aplica à mistura de dois contrastes de marcas diferentes, mesmo que com a mesma concentração. “Pode ocorrer incompatibilidade entre dois medicamentos diferentes”, explicou. Marcela Azevedo destacou ainda que a Norma Padi traz recomendações sobre a rastreabilidade do contraste.
Diluição ou redução da dose
Dra. Bruna Garbugio Dutra falou sobre a possível diluição de contraste. “É uma estratégia que está sendo recomendada, alguns serviços estão utilizando, mas sempre tem que ser feita com cautela. Deve-se tomar cuidado para não diminuir a qualidade do exame”, avaliou. Um exame de má qualidade pode acabar inutilizado. “E aí você vai ter que chamar o paciente de novo, injetar novamente, usar mais contraste do que usaria antes”, ressaltou.
Além disso, ela afirmou que a diluição com soro fisiológico aumenta o risco de contaminação do paciente. “Uma alternativa seria usar um sistema fechado de injeção, onde seria feita a injeção conjunta do contraste com o soro. Tem injetoras que têm essa capacidade”.
Dra. Bruna Garbugio Dutra também abordou a possível redução da dose. “Uma estratégia que pode ser usada com mais facilidade do que a diluição é a redução da dose baseada no peso do paciente. Existem cálculos do peso de massa magra que são possíveis de fazer”.
Os especialistas também esclareceram uma série de dúvidas dos participantes sobre temas como armazenamento do contraste após aberto, entre outras. Assista ao webinar na íntegra no canal oficial do CBR no YouTube.